ler, pensar, refletir


3 - india inglesa

Os ingleses insatisfeitos com a sua dependência do mercado de Lisboa para obtenção das especiarias do oriente, atacavam os navios dos impérios ibéricos no Oceano Atlântico, na Europa. Em 1612 o capitão Thomas Best competiu com os portugueses na costa de Surate na Índia e o capitão Nicholas Downton dominou uma frota portuguesa em 1615 e aliou-se ao rei mongol e frequentou a sua corte em Delhi. Ajudaram também os persas a expulsar os portugueses de Ormuz em 1622. Mais tarde, em rivalidade com os holandeses, substituíram as rotas de comércio de especiarias, por rotas do comércio dos têxteis. A Companhia Inglesa das Índias Orientais estabeleceu-se em Madrassa em 1640, depois em Surate, Bombaim e Calcata, locais que se tornaram importantes centros comerciais e populacionais.Com a ajuda dos ingleses, entre 1736-1717, o xá Nadir, turco, capturou e saqueou Delhi, enquanto os árabes de Mascate, ajudados pelos ingleses com o fornecimento de armas e munições, atacaram o comércio português, desde Mombaça, na África Oriental, até Índia. Por este processo, enfraquecendo os portugueses, os ingleses substituiram os portugueses e dedicaram-se ao lucrativo comércio de seda, algodão e têxteis, e, fortaleceram a sua posição no Golfo Pérsico, e, apoderaram-se do comércio português de tabaco, fornecido do Brasil, via Lisboa, para Londres, que os ingleses depois vendiam em Bombaim. Dominaram Bengala e a costa entre Mamelipatão e Orissa, e estabeleceram-se como comerciantes, fundaram escritórios, armazéns fortificados e armados. Derrotaram o exército mongol e impuseram-lhes os impostos e indemnizações no caso de recusa. A Companhia Inglesa das Índias Orientais dirigiu a defesa e o comércio do Índico e os seus capitães, comandantes, oficiais, soldados, regressavam à Inglaterra enriquecidos, sem qualquer fiscalização e controlo do Parlamento inglês. Os ingleses nesta altura tornavam-se devido as dificuldades de regresso à Inglaterra parte do sistema indiano, seja ficavam indianizados. Em 1798 Lord Mormington, depois Marques de Wellesley, é nomeado Governador-Geral da Companhia e em 1800 conseguiram total controlo da Índia e os reinos de Marajás tornaram-se seus tributários. Após a revolução mecânica com facilidades de comunicações marítimas, os funcionários ingleses e as suas famílias gozavam as férias em Inglaterra e deixaram-se de ser indianizados e interferiram nos costumes indianos, ajudados com o surgimento do telégrafo e do caminho-de-ferro. Ao mesmo tempo com a instalação das missões cristãs os moços das cidades europeízaram-se, causando alarme dos muçulmanos e brâmanes. Além dos três territórios: Bombaim, Calcutá e Madras, dos finais do século XVIII, a Inglaterra incorpora Mysore em 1806 e a Confederação Marata entre 1817 – 1818, bem como Sind e Beluchistão, e ainda Pundjab, acabando as guerras dos sicks e a tentativa de Ranjit Singh formar aí um Estado, com a ajuda dos assalariados ocidentais, e tornou-se senhora da Índia, exceptuando os territórios portugueses e franceses. Este império inglês tinha também estados dependentes: Baluquistão, Birmânia e Aden.

3.1. COLONIZAÇÃO: A língua inglesa substituiu a língua persa e na justiça aplicou-se a lei colonial inglesa, codificada em meados do século XIX. O ensino passou a ser ministrado em inglês com o apoio dos “ocidentalistas” em oposição aos “orientalistas”, partidários da educação tradicional indiana, e investiram contra os costumes, como, o sutti, suicídio das viúvas nas fogueiras na pira do marido, e flagelos, como, os thugs, sociedades secretas que praticavam o assassinato ritualista. A Inglaterra desenvolveu o landlordismo, quebrando a unidade da aldeia indiana, em que os príncipes indianos: zamindar, senhores feudais e negociantes usuários compraram terras e fixaram rendas aos seus camponeses,

3.1.1. ECONOMIA E OBRAS PÚBLICAS: O acto colonial favoreceu a indústria britânica, nos termos do qual eram exportados os produtos brutos para Inglaterra, como matéria prima para a industria inglesa, que, depois exportavam os seus produtos para a Índia, e, o mercado indiano foi invadido com os tecidos produzidos em Manchester, causando desemprego na Índia. As grandes cidades manufatureiras do interior: Daca, Patna, Nagpur e Amedabhad, despovoaram-se. As indústrias de tapetes e do artesanato do Decão e da planície indogangética faliram-se. As culturas alimentares também sofreram queda e deu-se a ruína dos salineiros, destiladores de álcool nas vilas, pescadores e criadores de porcos, criando desemprego e insegurança, em proveito das zonas de produção de algodão-bruto. Em contrapartida desenvolveram os portos de Calcutá e Bombaim, mas atrofiaram ao mesmo tempo os anteriores portos que exportavam o comércio para a Birmânia, Pérsia e Bengala. Esta alteração do tecido economico indiano, causou as epidemias de fome entre 1860 e 1877. Mas, a partir de 1853 construiram o maior sistema ferroviário da Ásia. Também construiram canais no Pundjab e no Sind para aumentar a produção agrícola e matar a fome. Além das obras públicas, criaram várias fábricas ligadas à indústria ligeira e desenvolveram o comércio de diversos produtos locais e de algodão, e, graças ao capital inglês, uma burguesia moderna indiana fundou fábricas, fiacções e tecelagens em Bombaim e em Ahmehdabad, como Tata e Birla, oriundos dos parses, mercadores prósperos de Bombaim, e também criaram fábricas de aço, mas a maior parte do capitalismo indiano, não tendo meios, orientava-se para a indústria leve, com poucos investimentos e lucros rápidos. Em 1920 é criado o Imperial Bank of Índia e em 1934 o Reserve Bank of Índia

3.2. REVOLTAS: Aos soldados da Companhia Inglesa da Índias Orientais, foi distribuída uma nova espingarda municiada com os cartuchos engordurados com o sebo da vaca e a banha do porco, enquanto a vaca é saragda ao hindú e o porco é impuro ao muçulmano. Estes preconceitos religiosos, agravados com o problema de fome, foram aproveitados pela arsistocracia indiana privada dos seus principados, anexados pela Companhia da Índias, para causar o Motim dos Cipaios, em 1857, em Bengala, e surgiram levantamentos para restaurar o império de Grão-Mongol em Merute e Delhi. A Inglaterra para governar melhor anexou o império indiano à Coroa Inglesa e o cargo de governador-geral foi substituido pelo de vice-rei e a Companhia das Indias Orientais pela Secretaria do Estado da Índia.

A classe média indiana, como, professores das universidades, advogados, jornalistas, empregados subalternos das firmas britânicas e do Indian Civil Service, apesar da diferença do seu estatuto e dos seus homológos ingleses na Índia, preocupou-se em desenvolver cooperação com o poder inglês, são os “ocidentalistas”, em que o Rajá Rammohun Roy, brâmane, da administração inglesa de Bengala, fundador do primeiro jornal em bengali e partidário da educação inglesa, empenhou-se em reformar a sociedade e abolir o sutti, morte das viúvas nas fogueiras da pira dos maridos falecidos e empenhou-se em obter mais liberdades políticas. O Congresso Nacional Indiano, formado por membros de formação universitária, exigiu uma maior participação no governo, pedido que parcialmente foi satisfeito, apesar disso alguns elementos do Congresso, insatisfeitos, fizeram cindir o Congresso em Moderados, defensores de luta via constitucional e política, e em Extremistas, via instigação para sublevação das massas. E em 1905 – 1907 Tilak lançou o boicote. Em 1909 para responder a explosão nacionalista de 1905 – 1908 é concedido o direito de eleição aos indianos nos Conselhos Legislativos das províncias e no de vice-rei e em 1919 dão-se novas reformas de autonomia interna. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914-1918 mais de 500 000 indianos serviram o exército indiano e em 1919 obtiveram uma maior representação parlamentar, nisto Mahatma Gandhi, 1869 – 1948, tomou a direcção do Congresso e incitou os adeptos a greves e satyagraha e participou na revolta dos camponeses de Bihar, causando violência no Pundjab e em Amritsar, onde em Abril de 1919 as tropas britânicas abrem fogo matando mais de 300 pessoas e mais de 1000 feridos.

Este movimento gandiano influenciado pela revolução soviética, lançou o movimento de não-cooperação para obter swaraj, a independência, e em 1920 foi fundado o All Índia Trade Union Congress, formando sindicatos em Bombaim e Calcutá, o que levou a instauração do grande processo de Meerut, 1929 – 1930, contra os 31 dirigentes operários. Depois com a crise económica mundial de 1930-1933 foi lançada de novo a campanha de desobediência social, com greves nas salas de aulas, boicote das mercadorias inglesas e manifestações da rua, pondo em causa o british raj, causando as prisões dos dirigentes políticos indianos. Nestas altura surgem as “Conferências da Mesa Redonda” realizadas em Londres com a participação de Mahatma Gandhi e outras personalidades indianas, que aceitam a eventualidade de um estatuto de domínio, conservando a Grã-Bretanha o controlo da polícia, finanças, relações exteriores. Entre 1920 e 1930 Jawaharlal Nehru e Subhas Chandra Boss, proclamaram-se socialistas, quando o partido comunista indiano fundado em 1921 se encontrava fraco. Subas Chandra Boss era defensor do derrube dos ingleses com o uso das armas, e, no início da Segunda Guerra Mundial visitou a aliança totalitária, Moscovo, Berlim, Roma, e, fecebeu o apoio nipónico para formar o INA, Exército Nacional Indiano, que combateu na Birmânia e participou na ofensiva nipónica em 1944. Regressou à Índia num submarino alemão e foi investido presidente dum governo provisório da Índia Livre, recebendo imediato reconhecimento dos países do Eixo e da União Soviética. Morreu em 1945 num desastre aéreo. (In. Combustões. blogspot.com, 10.01.2010). Enquanto Mahatma Gandhi preferiu a não-violência ( ahimisa), a não-cooperação (satyagraha) durante a sublevação dos aldeões da indústria de tecelagem, e em 1922 suspendeu o movimento de não-cooperação quando os camponeses se sublevaram contra seus proprietários rurais e atacaram a polícia e os obrigou a pagar a renda aos zamindar. Na Birmânia, ligada ao império da Índia, dão-se tumultos, contra empregados e agiotas indianos aí estabelecidos, criando grave crise política e social de 1930-1931 e provocando a separação da Birmânia do Império da Índia, com autonomia interna e ministro birmanês responsável por todos os negócios internos. Nas eleições de 1937 o Congresso sai vitorioso, cuja unidade nacional manteve-se apesar do sistema de castas e diversidade cultural e linguística: bengalis, tâmiles, maratas, pendjabis (as revoltas linguísticas que explodiram diversas vezes depois da independência, quando da demarcação das novas províncias, revelam a sua importância). A questão muçulmano tem a ver com o nacionalismo indiano baseado no hinduísmo, contra um quarto da população muçulmana, pressão que contribuiu para criar em 1906 a Liga Muçulmana. A política dual britânica dividiu Bengala em 1905 em zonas muçulmanas e decidiu em 1909 por um sistema eleitoral de representação separada para os muçulmanos, no entanto em 1916 os chefes da liga muçulmana assinaram um pacto de unidade com o Congresso. Mas em 1937 o Congresso ganhou as eleições em seis províncias, e a Liga Muçulmana saiu derrotada, não conseguindo eleger nenhum representante. Face a estes resultados a Liga Muçulmana em 1940 pediu oficialmente a constituição de um Paquistão independente. Os nacionalistas só queriam participar na 2ª Grande Guerra com a independência obtida. Eram contra o acordo de 1939 entre Governo Inglês e representantes indianos, em que concoradavam financiar também com o orçamento indiano o esforço da guerra, e, em 1941 quando foi proposto o estatuto de domínio, o Congresso votou contra e lançou o movimento "Quit Índia", que foi severamente castigado e as autoridades aprisionaram mais de 60 000 pessoas. Em 1942 a campanha da indisciplina civil degenerou numa revolta armada e a prisão dos principais líderes do Congresso.